22 de Junho de 2011: Devolução à natureza de dois cágados-mediterrânicos

22 de Junho de 2011, Quarta-feira
14.30h - Devolução à natureza de dois cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa)
Junto ao Rio Seia


Foto: Mauremys leprosa

Estes dois animais ingressaram no CERVAS por intermédio do SEPNA-GNR de Gouveia. Um deles terá sido vítima de um atropelamento e apresentava uma pequena fractura da carapaça, já o outro cágado foi vítima de cativeiro acidental. A sua recuperação passou por uma alimentação adequada, e no caso do cágado com a carapaça partida foi essencial o tratamento da lesão permitindo a sua cicatrização. Os cágados foram devolvidos à natureza num local que reúne as condições adequadas para a sobrevivência da espécie, e onde já foram observados alguns indivíduos.




No momento da devolução à natureza destes dois cágados estiveram presentes 14 pessoas, entre as quais uma turma da EPSE - Escola Profissional da Serra da Estrela com o seu professor de energias renováveis, uma professora a representar a ESHT - Escola Superior de Hotelaria e Turismo, agentes do SEPNA-GNR de Gouveia, um particular e técnicos do CERVAS. Os cágados eram um macho e uma fêmea e foram baptizados de 'Afonso' e 'Vânia', respectivamente.


Em Portugal existem duas espécies de cágados autóctones, o cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) e o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), sendo este o que se encontra mais ameaçado, com estatuto de conservação Em Perigo (EN - Livro Vermelho Vertebrados de Portugal). No entanto ambas têm sofrido um declínio das suas populações selvagens e ocupam uma grande variedade de habitats dulciaquícolas ou de baixa salinidade, de águas paradas ou de corrente lenta, permanentes ou temporários, tais como charcos, albufeiras, represas, rios e ribeiras. Preferem locais com uma boa cobertura de vegetação aquática e pouca cobertura da vegetação das margens.

Foto: Mauremys leprosa

Foto: Mauremys leprosa

Os principais factores de ameaça identificados para estas espécies estão relacionados com a alteração e destruição de zonas palustres, as capturas intencionais e a introdução de espécies exóticas, entre as quais se destacam o cágado-da-flórida (Trachemys scripta) e o lagostim-vermelho-do-louisiana (Procambarus clarkii). O cágado-da-flórida apresenta-se como uma espécie com uma taxa de crescimento mais elevada e um comportamento mais agressivo e oportunista que as espécies autóctones. A sua introdução na natureza pode originar alterações na cadeia alimentar e a introdução de doenças ou parasitas para as quais as espécies autóctones não possuem defesa. Este cágado tem sido importado em grandes quantidades e muito frequentemente são abandonados pelos seus donos e introduzidos nos ecossistemas aquáticos naturais, onde se reproduzem.


Fotos: No local da libertação dos dois cágados, os técnicos do CERVAS detectaram uma das espécies exóticas, o cágado-da-flórida (Trachemys scripta). Este indíviduo adulto apresentava 1,200kg e foi removido do Rio Seia pelos técnicos, de forma a contribuir para a conservação das espécies autóctones.

Para reduzir este impacto pôs-se em marcha o projecto LIFE-Trachemys (LIFE09 NAT/ES/000529), co-financiado pela Comissão Europeia, para o seu desenvolvimento em 17 zonas húmidas da Generalidade Valenciana e Portugal e com o qual a Associação ALDEIA colabora através do RIAS - Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (Ria Formosa - Olhão).


Os objectivos principais deste projecto são a diminuição da perda de biodiversidade aquática devido à presença de tartarugas exóticas, sobretudo de Trachemys scripta; a criação de uma estratégia de erradicação de populações selvagens de tartarugas exóticas invasoras; a conservação das populações actuais de anfíbios e tartarugas autóctones e a informação e sensibilização da sociedade para a problemática causada pela libertação de espécies exóticas na natureza e evitar esta prática tão habitual.


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