Espécie do mês de Setembro: Cágado-mediterrânico



O cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) é uma das duas espécies de cágado que ocorrem em Portugal e que são autóctones.

Esta espécie possui  um corpo e uma carapaça cinzento esverdeada ou castanho, com manchas claras e difusas. O pescoço e as patas anteriores apresentam linhas alaranjadas que geralmente são mais marcadas nos juvenis. Em ambos os lados da cabeça apresenta uma mancha arredondada de cor amarela ou laranja, que se vai tornando menos visível com a idade. O plastrão, ou fase ventral, possui uma coloração esverdeada ou amarela com manchas pretas distribuídas simetricamente em ambos os lados da linha central. A carapaça é oval e comprimida dorso-ventralmente, tendo uma quilha médio-dorsal proeminente. Possui placas axilares e inguinais bem desenvolvidas e as placas anais são pontiagudas. O cágado-mediterrânico possui extremidades robustas, com escamas distintas e dedos bem diferenciados unidos por membranas interdigitais e com unhas fortes.


Normalmente as fêmeas são maiores que os machos, sendo o plastrão dos machos ligeiramente côncavo, provavelmente para facilitar a cópula, enquanto que o plastrão das fêmeas é plano. Os recém-nascidos têm uma carapaça quase circular com cerca de 20 mm de comprimento, com escamas e quilha bem definidas. A coloração é mais contrastada e intensa comparativamente aos adultos, apresentando linhas amarelas bem marcadas na cauda e pescoço e manchas bem visíveis na carapaça.




O cágado-mediterrânico está presente no Norte de África, Península Ibérica e em algumas áreas do Sul de França. Em Portugal a sua distribuição é contínua a sul do rio Tejo, estendendo-se pelo interior até ao Parque Natural de Montesinho, estando ausente em todas as bacias hidrográficas mais importantes a norte do rio Mondego, excepto nas sub-bacias do rio Douro do interior do país.
O cágado-mediterrânico pode ser observado em cursos de água com correntes fracas, albufeiras, represas e charcos com elevada cobertura de vegetação aquática e insolação das margens. Esta espécie por norma não se encontra em rios e ribeiros de corrente rápida e em zonas de maior altitude acima dos 1000 m.

O cágado-mediterrânico é uma espécie de hábitos diurnos, que pode hibernar nas zonas frias enquanto nas áreas mais quentes do país encontra-se activa durante todo o Inverno. Pode igualmente apresentar períodos de estivação onde se enterra no fundo das massas de água onde vive.



A sua época de reprodução tem início no final da Primavera,( embora possa ocorrer mais cedo nas zonas mais quentes), e no Outono. As cópulas ocorrem frequentemente dentro de água, podendo realizar-se em terra. As posturas ocorrem durante os meses de Junho e Julho, onde a fêmea escava um buraco fora de água com cerca de 6 a 10 cm de profundidade onde enterra entre 1 a 12 ovos. Os machos atingem a maturidade sexual mais cedo, (entre 2 a 4 anos de idade e 85-95 mm de comprimento), que as fêmeas (entre 6 a 7 anos e 138-150 mm de comprimento). Esta espécie apresenta uma longevidade elevada podendo viver até aos 35 anos de idade.

O cágado-mediterrânico possui uma alimentação essencialmente vegetal, constituída também por invertebrados, podendo igualmente incluir peixes e anfíbios.



A captura ilegal de animais desta espécie é um dos factores que pode ameaçar algumas das suas populações. Com efeito, os cágados são capturados para serem vendidos como animais de estimação ou são capturados acidentalmente nas redes de pesca, acabando por morrer por afogamento, ou recolhidos por pessoas que os mantêm em cativeiro ilegalmente. A alteração e destruição do habitat também pode levar à fragmentação ou mesmo ao desaparecimento de algumas populações desta espécie.
Outro factor de ameaça é a introdução de espécies exóticas, nomeadamente da tartaruga-verde (Trachemys scripta) e tartaruga-da-Flórida (Trachemys scripta elegans) que têm maior crescimento e são mais agressivas e oportunistas, competindo com o cágado-mediterrânico pelos recursos.
Para reduzir este impacto pôs-se em marcha o projecto LIFE+ Trachemys, co-financiado pela Comissão Europeia, para o seu desenvolvimento em 17 zonas húmidas da Generalidade Valenciana e Portugal.


Bibliografia:
Guia FAPAS - Anfíbios e Répteis de Portugal

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