CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens

O Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS) é uma estrutura que pertence ao Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) mas que se encontra actualmente sob a gestão da Associação ALDEIA, e que tem como objectivos detectar e solucionar diversos problemas associados à conservação e gestão das populações de animais selvagens e dos seus habitates.

As linhas de acção do CERVAS são a recuperação de animais selvagens feridos ou debilitados, o apoio e/ou a realização de trabalhos de monitorização ecológica e sanitária das populações de animais selvagens, o apoio e fomento à aplicação do Programa Antídoto – Portugal, a promoção da sensibilização ambiental em matéria de conservação e gestão dos animais selvagens e o funcionamento como unidade intermédia de gestão e transferência de informação e amostras tratadas através de parcerias científicas.

O trabalho de recuperação de animais selvagens consiste na recepção e tratamento dos indivíduos recolhidos, com o objectivo de os libertar no local onde foram encontrados. Em Portugal, existe uma Rede Nacional de Recolha e Recuperação de Animais Selvagens, de que fazem parte cerca de uma dezena de centros de recuperação, sendo a rede gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).

Concomitantemente, o CERVAS desenvolve trabalho de monitorização de todos os animais que ingressam no centro, vivos e/ou cadáveres, no sentido de determinar causas de entrada e de morte respectivamente, patologias predisponentes e agentes infecciosos, parasitários e tóxicos presentes. Este trabalho é importante pois há muita informação que pode e deve ser obtida através dele, não só para fins de preservação das espécies em causa, mas também para detecção atempada de potenciais impactos em saúde pública. Por isso, todos os animais vivos, cadáveres e partes de animais que ingressam no CERVAS são estudados cuidadosamente. Nestes procedimentos, globalmente denominados vigilância sanitária, o CERVAS apresenta-se capacitado, também, para realizar alguns trabalhos de recolha de informação em animais em liberdade, dispondo de meios próprios ou estando capacitado para gerir parcerias para proceder à captura de diversas espécies.

Na sequência destes trabalhos, o CERVAS afigura-se como uma unidade fundamental na aplicação do Programa Antídoto - Portugal. Este constitui um instrumento decisivo na detecção e combate ao uso de venenos no meio natural, gerindo uma vasta lista de parcerias institucionais que abrangem autoridades científicas, policiais, organizações de cidadania e outras. O uso de venenos continua prática corrente em Portugal e tem sido, ao longo dos tempos, uma das principais causas de regressão ou extinção, pelo menos local, de diversas espécies. Note-se, como exemplo, o facto de ser atribuída a esta prática a extinção do Lobo-ibérico (Canis lupus) na Serra da Estrela.

Finalmente, o CERVAS assume-se como um centro de ecologia aplicada no sentido em que permite a realização de trabalhos práticos relativos à monitorização da dinâmica das populações de animais selvagens no meio natural. Esta funcionalidade, complementada com o estabelecimento de parcerias com o meio científico, torna-o numa unidade intermédia de pesquisa aplicada para o acompanhamento e estudo das espécies selvagens. Neste aspecto assume particular destaque a possibilidade de efectuar a monitorização da abundância populacional das espécies cinegéticas, monitorizando os resultados globais do ordenamento e gestão da caça.

Assim, pode dizer-se que o CERVAS é um instrumento essencial porque permite avaliar, detectar e indicar soluções para diversos problemas práticos da conservação das espécies selvagens. Por estar estabelecido como unidade de trabalho intermédio entre a recolha de informação no terreno e os procedimentos científicos a que se dedicam os investigadores universitários, pode dizer-se que ocupa um vazio funcional. O espaço de trabalho que ocupa insere-se no plano multidisciplinar da monitorização da fauna e, por isso, é da competência do ICNB e não dos centros de investigação científica. Contudo, é inviável sem o estabelecimento de parcerias, quer a montante, quer a jusante.

Vista geral das instalações do CERVAS


Para assegurar o seu funcionamento, o CERVAS possui instalações próprias para recepção e avaliação dos animais: uma clínica, uma sala de cirurgia, uma sala de radiografias, um laboratório misto de sanidade e ecologia, uma unidade de cuidados intensivos com jaulas de diferentes tamanhos, jaulas exteriores de recuperação, túneis de voo, sala de necrópsia, biotério para produção de alimento e salas de armazenamento de comida e material diverso, bem como um escritório para trabalho técnico. Além disso, beneficia das instalações da delegação de Gouveia do PNSE como espaço administrativo, de biblioteca e de reuniões de trabalho e acções de sensibilização. Possui ainda algum equipamento móvel de captura, detenção e seguimento de animais selvagens. Internamente dispõe, também, de diversos equipamentos laboratoriais e informáticos.

Edifício principal (escritório, clínica e internamento) e biotério e sala de necrópsias (edificio amarelo)


Câmaras de muda


Câmara de musculação ou túnel de voo



Assim, o CERVAS é um projecto que pretende ser pioneiro em Portugal. Não é um simples centro de recuperação de animais selvagens, mas sim um avançado meio de observação e diagnóstico primário da situação da fauna existente em Portugal. O seu funcionamento tem estado associado a requisitos simples, mas absolutamente necessários nesta fase inicial da sua existência. Só tem sido possível devido a três alicerces: a dedicação técnica interna no PNSE/ICNB, a contratação de um veterinário e a parceria externa com outras entidades, como por exemplo o CIBIO-UP. Paralelamente, tem havido recurso a despesas esporádicas de aquisição de materiais complementares ou manutenção mínima das infra-estruturas mas, principalmente, a trabalho voluntário de estagiários das áreas da medicina veterinária e da biologia.

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