Comportamento de defesa do ninho por parte do mocho-galego em Gouveia

No âmbito da dissertação final da Licenciatura em Zoologia, o Projecto BARN do CERVAS/ALDEIA acolheu a estudante Laura Nunes da Universidade de Birmingham, em Inglaterra. O estudo focou-se na área da ecologia comportamental de uma espécie de ave de rapina nocturna, o mocho-galego (Athene noctua), mais concretamente na resposta desta espécie perante a simulação de outros indivíduos da mesma espécie. Deste modo, o estudo procurava analisar os mecanismos de defesa dos ninhos e das crias por parte dos seus progenitores através da resposta vocal e física.

Figura 1: Mocho-galego (adulto)

Este estudo foi realizado no concelho de Gouveia, mais concretamente nas freguesias de Arcozelo da Serra, Nespereira, Figueiró da Serra, Vila Franca da Serra e São Paio. Os locais para a realização deste trabalho foram escolhidos tendo em conta o censo de aves de rapina nocturnas realizado em 2008/2009, sendo seleccionados os locais onde a probabilidade de nidificação era maior ou mesmo confirmada. O trabalho de campo foi levado a cabo entre finais de Junho e finais de Julho de 2011, altura em que ainda podem ser encontradas crias nos ninhos ou, quando já fora do ninho, ainda dentro do território dos progenitores e dependentes destes.

Figura 2 e 3: Em cima, habitat típico do mocho-galego em Vila Franca da Serra, Gouveia. Em baixo, oliveira antiga no qual foi encontrado um ninho de mocho-galego.

Durante o trabalho de campo foram realizadas prospecções diurnas para confirmação ou detecção de locais de nidificação, bem como de pousos frequentes e locais de repouso, através não só da visualização dos indivíduos (crias e/ou adultos), como também através da presença de vestígios como penas, egagrópilas e dejectos.

Figura 4: Mocho-galego (adulto) à entrada de um dos ninhos encontrados num muro de pedra em Nespereira.

Com a confirmação da localização dos ninhos era então realizados pontos de observação (visual e auditiva) em redor dos mesmos, recorrendo à emissão de vocalizações de mocho-galego. Eram realizados 2 pontos de observação em cada ninho, em dias e horas diferentes, mas sempre ao final da tarde, podendo começar entre 1h antes até 2h após o ocaso, de modo a possibilitar a observação dos indivíduos, sendo registados vários parâmetros relacionados com o comportamento físico e vocal dos adultos como movimentos, tempo de latência da resposta, tipo de resposta (chamamento típico, alarme...), frequência de resposta, período de resposta, entre outros.

Figura 5: Casal de mochos-galegos, fêmea à esquerda e macho à direita.

Foram identificados 14 ninhos, 3 em cada freguesia, com excepção de Figueiró da Serra onde apenas foram detectados 2 ninhos. Os resultados obtidos durante os pontos de observação estão ainda a ser analisados, pelo que ainda não é possível avançar com quaisquer conclusões.

Figura 6: Mocho-galego (cria) dentro do ninho encontrado num muro de pedra em S. Paio.

De salientar no entanto a importância destes trabalhos na ampliação de conhecimento sobre o mocho-galego, uma espécie que apesar de abundante no território nacional poderá estar a sofrer um decréscimo devido à diminuição do seu habitat preferencial, áreas de agricultura tradicional. Também é importante referir que, a par de outros trabalhos realizados no âmbito do projecto BARN, os dados obtidos neste trabalho poderão ser utilizados como base para novos trabalhos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Espécie do mês de Maio: Cobra-rateira

Espécie do mês de Abril: Tentilhão-comum

Espécie do mês de Junho: Ouriço-cacheiro

Espécie do mês de Setembro: Cobra-de-água-de-colar

Espécie do mês de Março: Morcego-anão

Espécie do mês de Junho: Víbora-cornuda

Espécie do mês de Março: Corvo

Espécie do mês de Setembro: Cágado-mediterrânico

Espécie do mês de Dezembro: Fuinha

Devolução à Natureza de 1 morcego-negro em Gouveia