Percepções sociais da população do concelho de Gouveia em relação à fauna silvestre local e aos centros de recuperação de animais selvagens

A análise das percepções sociais tem-se revelado um alicerce extremamente importante no campo da conservação e da gestão faunística, determinando muitas das vezes o sucesso ou fracasso das medidas a aplicar. Tal é o caso das campanhas de educação e sensibilização ambiental, cuja promoção é uma das várias linhas de actuação do CERVAS.
Com esta consideração como pano de fundo, a investigação antropológica desenvolvida girou em torno de dois objectivos. Em primeiro lugar, pretendeu-se apreender as percepções sociais da população residente no concelho de Gouveia acerca da fauna silvestre local, bem como as (possíveis) variáveis que lhes subjazem. Para tal, foram seleccionadas cinco espécies: o Pintassilgo (Carduelis carduelis), a Coruja-das-torres (Tyto alba), a Fuinha (Martes foina), o Grifo (Gyps fulvus) e o Milhafre-preto (Milvus migrans). Por outro lado, pretendeu-se aceder ao grau de conhecimento e aceitação da população em causa, bem como às respectivas opiniões, em relação ao trabalho e actuação dos Centros de Recuperação de Animais Selvagens em Portugal, no geral, e do CERVAS, em particular. Foi, então, conduzido um inquérito por questionário entre inícios de Junho e finais de Agosto de 2008 nas ruas de seis freguesias do concelho de Gouveia: Aldeias, Nespereira, S. Paio, S. Pedro, Ribamondego e Vinhó. Da amostra fizeram parte 109 casos (50 do sexo masculino, 59 do feminino), representando cerca de 2% dos casos do Universo.

Os resultados sugerem que a maioria das percepções demonstradas pelos inquiridos em relação às espécies consideradas são eminentemente positivas, embora nalguns casos a positividade das respostas tenha sido muito superior à de outras, como se verificou no caso do Pintassilgo e do Milhafre-preto. Por outro lado, as percepções sociais parecem estar de certa forma relacionadas com o conhecimento empírico das espécies, tendendo ainda a ser influenciadas por algumas das variáveis sócio-demográficas tidas em conta (como é o caso da idade, residência e habilitações literárias). Quanto aos Centros de Recuperação, os dados revelam que as opiniões são positivas, apesar de a maioria dos inquiridos não conhecer o CERVAS (58%). Para além disso, a população demonstrou interesse em assistir a futuras libertações e na recepção de informações sobre as actividades dos Centros, apesar de um número igualmente significativo não demonstrar qualquer interesse.
Este estudo pioneiro permitiu, entre outros aspectos, demonstar a importância de ter em conta as percepções locais para o próprio trabalho dos Centros de Recuperação de Animais Selvagens, podendo ser interessante desenvolver estudos mais alargados nesta área, em termos quantitativos e geográficos, num futuro próximo.
Filipa Soares, Antropóloga

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