O ingresso de crias

A queda do ninho é um dos motivos que mais frequentemente está associado ao ingresso de animais nos centros de recuperação de fauna selvagem, sendo que entre 2006 e 2009, no CERVAS esta foi a principal causa de ingresso de crias.

Foto 1: Cria de coruja-do-mato (Strix aluco)

Todos os anos, com a aproximação dos meses quentes de Primavera e Verão, a fauna selvagem prepara-se para cuidar da sua prole e assim garantir a perpetuação da espécie. Sendo assim, após o acasalamento os progenitores começam a procura dos locais mais seguros para se reproduzirem; no entanto os perigos são vários e são muitas as razões que podem trazer as crias destes animais para os centros de recuperação de fauna selvagem.

Pela experiência obtida no CERVAS, entre 2006 e 2009 entraram no total 146 crias de animais selvagens no centro. Os ingressos estão distribuídos entre os meses de Março e Setembro, com destaque para os meses de Maio, Junho e Julho.


Gráfico 1: Evolução anual dos ingressos de crias por mês, registados entre 2006 e 2009

Dentro das espécies que mais ingressam no centro por queda do ninho estão as aves de rapina nocturnas, em primeiro a coruja-do-mato (Strix aluco), seguida por mocho-galego (Athene noctua) e mocho-de-orelhas (Otus scops), e por último coruja-das-torres (Tyto alba) com 29, 19, 18 e 11 ingressos respectivamente entre 2006 e 2009.

Entre as rapinas diurnas a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) ocupa o 1º lugar nos ingressos por queda de ninho. Para além disso é frequente o ingresso de outras espécies como o milhafre-preto (Milvus migrans), o gavião (Accipiter nisus), a águia-calçada (Aquila pennata) e o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus). Noutros grupos de aves é importante referir o grupo dos ciconiformes, mais concretamente a cegonha-branca (Ciconia ciconia) e o grupo dos apodiformes, onde se agrupam os andorinhões (Apus sp.), que também representam um número significativo de ingressos enquanto crias.


Foto 2: Crias de águia-de-asa-redonda (Buteo buteo).

No caso dos mamíferos a situação é distinta, já que os hábitos destes animais são bastantes diferentes dos das aves o que se reflecte num menor número de ingressos nos centros de recuperação. Para além dos seus hábitos nocturnos, normalmente os refúgios destes animais são bastante escondidos, pelo que no caso da morte dos progenitores as crias ficam abandonadas, sendo por isso de difícil detecção. A raposa (Vulpes vulpes) é a espécie que ingressa mais frequentemente enquanto cria no CERVAS, no entanto a gineta (Genetta genetta), a fuinha (Martes foina) e o esquilo (Sciurus vulgaris), são animais que todos os anos representam uma pequena fatia das crias em recuperação no centro.

Os animais que ingressaram por queda de ninho no CERVAS entre 2006 e 2009 provêm essencialmente de zonas geograficamente próximas dos locais de acção deste centro (concelhos de Gouveia, Seia e Guarda) mas também da zona de Coimbra e Portalegre.

Gráfico 2: Distribuição geográfica por freguesia dos ingressos no CERVAS de crias de animais selvagens entre 2006 e 2009.

No sentido de diminuir a mortalidade destas crias, existe um grande esforço por parte do centro em aperfeiçoar as técnicas e os cuidados a ter com estes animais, de forma a garantir o seu crescimento e a sua sobrevivência no meio selvagem. Sendo assim quando uma cria ou juvenil de um animal selvagem ingressa num centro, é importante reduzir o contacto visual dos animais com o ser humano ao mínimo indispensável, de forma a evitar a sua domesticação. O primeiro passo deve ser avaliar se está em boa condição física e nesse caso descobrir onde foi encontrado e tentar devolvê-lo de imediato ao seu local de origem, recolocando-o no seu ninho ou toca, se as condições de segurança para a cria estiverem garantidas. Embora este fosse o procedimento ideal, só muito raramente existem as informações necessárias e as garantias de sucesso que permitam tomar essa decisão. Assim, e porque poucas vezes se conhece a proveniência exacta e a localização dos locais de reprodução, o animal deve ficar no centro.


Foto 3: Cria de coruja-das-torres (Tyto alba).

Para a sua recuperação podem ser tentadas diversas soluções, que podem passar pela tentativa de adopção por mães/pais adoptivos (geralmente animais irrecuperáveis da mesma espécie ou outra semelhante) que existam nos centros, colocá-los em conjunto com outros juvenis de idade aproximada que tenham sido também recolhidos na mesma época (mesmo que sejam provenientes de outras zonas), ou tentar alimentá-los manualmente, reduzindo sempre o contacto com humanos ao mínimo indispensável. A interacção com animais adultos da mesma espécie é de extrema importância pois vai permitir que as crias aprendam os comportamentos típicos da espécie, sendo que muitas vezes, os adultos irão começar a alimentar as crias, o que permite que o contacto com humanos seja praticamente eliminado.

Foto 4: Cria de fuinha (Martes foina).

A alimentação correcta destas crias é um factor decisivo para o sucesso da sua recuperação, sendo muito importante conhecer a biologia das espécies, já que existem alguns casos em que o alimento que as crias consomem é diferente dos adultos. Para além disso, nos centros de recuperação as crias são estimuladas a obter o alimento por elas próprias, por exemplo as aves de rapina são incentivadas a caçar, já que esta actividade é de extrema importância para a sua sobrevivência após a sua libertação para a Natureza.

Assim, quando se encontra uma cria abandonada, e se a sua devolução ao ninho ou toca não for possível, esta deve ser encaminhada para um centro de recuperação de animais selvagens o mais rapidamente possível.

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