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Libertação: 26 de Fevereiro de 2010

26 de Fevereiro de 2010, Sexta-feira
Libertação de um gavião (Accipiter nisus)
10:00 Midões, Tábua



Esta ave foi recolhida e entregue no CERVAS, no final do ano de 2009, por particulares, após ter sido encontrada junto a uma estrada. O seu processo de recuperação envolveu o tratamento das lesões (compatíveis com atropelamento), o contacto com animais da mesma espécie e ainda treinos de voo e de caça.


Na sua devolução à natureza estiveram presentes cerca de 120 pessoas, na sua maioria crianças, professores e auxiliares da Escola Básica de Midões, mas também representantes do poder local e alguns populares, que baptizaram a ave de "Midas". Esta acção foi precedida de uma apresentação sobre o trabalho do CERVAS e sobre as aves de rapina existentes em Portugal.


Espécie do mês de Fevereiro: Texugo

O texugo (Meles meles) é um mamífero pertencente à classe dos mustelídeos, tal como a fuinha (Martes foina) ou a lontra (Lutra lutra). Existe por toda a Europa e Ásia, excepto no sub-continente Indiano e em latitudes muito elevadas. Tem um corpo robusto e a pelagem característica, não sendo possível de confundir com a de qualquer outro animal pertencente a fauna autóctone, com a zona ventral de cor negra, ao passo que o dorso é acinzentado. A cabeça é branca, com duas riscas brancas, na zona dos olhos, que se estendem desde a ponta do focinho até ao final do pescoço e que cria contraste com as pequenas orelhas, de cor branca.

Foto 1: Aspecto da coloração da cabeça e do dorso de um texugo (Devolução à Natureza na Mata Nacional do Choupal)

O comprimento do corpo varia entre os 67 e os 81 cm, e a cauda, pequena quando comparada com o tamanho do corpo, mede entre 11 a 19 cm e pode pesar até 12 kg.

Vive em grupos sociais, que incluem machos, fêmeas e crias, que podem ter até 25 indivíduos e que defendem o território comum.

O acasalamento pode ocorrer em qualquer altura do ano, sendo no entanto mais frequente nos períodos de Fevereiro a Maio e de Julho a Setembro. Apesar da gestação durar cerca de 7 semanas, esta espécie apresenta uma implantação retardada (de 3 a 10 meses), o que leva a que as crias nasçam geralmente entre os meses de Janeiro e Fevereiro.

Ainda que se suponha ser um animal comum não é de fácil observação uma vez que apresenta hábitos essencialmente nocturnos e passa grande parte do tempo em tocas, que escava com as garras, bastante bem adaptados para este fim. Estas tocas podem ser um sistema complexo de túneis e câmaras, com diversas entradas.

Foto 2: Toca escavada por um texugo, sendo possível ver-se parte do animal. Esta toca foi escavada pelo próprio animal, dentro das instalações do CERVAS, durante o processso de recuperação.

Em termos alimentares, o texugo é considerado como um animal omnívoro oportunista e a sua dieta passa por pequenos roedores, alguns invertebrados, como insectos, anelídeos e gastrópodes e também frutos, raízes e bolbos.

De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, editado pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, esta espécie apresenta um estatuto de conservação “Pouco Preocupante” sendo as suas principais causas de ameaça, o atropelamento e o abate ilegal.

Foto 3: Aspecto geral de um Texugo. Note-se a forma robusta do corpo, com a cauda curta, relativamente ao resto do corpo. (Devolução à Natureza na Mata Nacional do Choupal)

Saída de Campo: As Aves do Rio Mondego - Nelas

Foto: Ricardo Brandão

No dia 20 de Fevereiro realizou-se uma saída de campo no concelho de Nelas, que contou com 13 participantes. Foram efectuados vários percursos e paragens em locais próximos de linhas de água, florestas envolventes e campos agrícolas. O ponto de encontro foi a Câmara Municipal de Gouveia e daí se seguiu para o concelho de Nelas. O primeiro ponto de observação e escuta teve lugar na ponte nova, que une o distrito da Guarda e o de Viseu. Aqui foi possível observar e ouvir várias espécies de chapins. Seguiu-se depois para as Caldas da Felgueira onde foi possível observar corvos-marinhos e uma garça-real.

Foto: José Prata dos Reis

Ainda dentro da aldeia, foi possível observar várias aves típicas de zonas agrícolas, entre as quais, cias, verdilhões, pintassilgos e milheirinhas. Perto da hora e zona de almoço, foi possível observar uma das aves mais interessantes do dia, o açor.

Foto: José Prata dos Reis

O percurso continuou sempre junto ao rio, em direcção a Póvoa de Luzianes. Aqui observaram-se várias espécies entre os quais, cartaxo, gaio, picapau-malhado-grande e picanço-real.
Durante esta saída de campo foi possível observar as seguintes 34 espécies de aves:
  • Phalacrocorax carbo (Corvo-marinho)
  • Ardea cinerea (Garça-real)
  • Accipiter gentilis (Açor)
  • Buteo buteo (Águia-de-asa-redonda)
  • Streptopelia decaocto (Rôla-turca)
  • Apus apus (Andorinhão-preto)
  • Dendrocopos major (Pica-pau-malhado)
  • Ptyonoprogne rupestris (Andorinha-das-rochas)
  • Anthus pratensis (Petinha-dos-prados)
  • Motacilla cinerea (Alvéola-cinzenta)
  • Motacilla alba (Alvéola-branca)
  • Erithacus rubecula (Pisco-de-peito-ruivo)
  • Phoenicurus ochruros (Rabirruivo)
  • Saxicola torquata (Cartaxo)
  • Turdus merula (Melro)
  • Turdus philomelos (Tordo-pinto)
  • Turdus viscivorus (Tordoveia)
  • Phylloscopus collybita (Felosinha)
  • Sylvia melanocephala (Toutinegra-dos-valados)
  • Sylvia atricapilla (Toutinegra-de-barrete)
  • Aegithalos caudatus (Chapim-rabilongo)
  • Parus ater (Chapim-carvoeiro)
  • Parus caeruleus (Chapim-azul)
  • Parus major (Chapim-real)
  • Lanius meridionalis (Picanço-real)
  • Garrulus glandarius (Gaio)
  • Corvus corone (Gralha-preta)
  • Corvus corax (Corvo)
  • Passer domesticus (Pardal)
  • Fringilla coelebs (Tentilhão)
  • Serinus serinus (Milheirinha)
  • Carduelis chloris (Verdilhão)
  • Carduelis carduelis (Pintassilgo)
  • Emberiza cia (Cia)

Foto: José Prata dos Reis

O CERVAS na Feira do Campo e da Caça (Gouveia)

O CERVAS e a Associação ALDEIA estiveram representados na Feira do Campo e da Caça, que decorreu em Gouveia, entre 12 e 16 de Fevereiro.
O espaço do CERVAS/ALDEIA foi um local de informação sobre o trabalho do Centro de Recuperação de Animais Selvagens e da Associação, de divulgação de actividades futuras e de sensibilização para a importância da conservação da fauna selvagem.


Para além da presença permanente de técnicos do CERVAS, o stand contou também com uma pequena exposição de material de educação ambiental.

O espaço do CERVAS foi visitado por várias dezenas de pessoas, entre as quais a Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território, Dulce Pássaro, do Secretário de Estado de Estado da Administração Local, José Junqueiro e do Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, Álvaro Amaro.

Este evento foi organizado pela Câmara Municipal de Gouveia e pela DLCG - Empresa Municipal de Gouveia e esteve inserido nos festejos do "Carnaval da Serra 2010".


Abate a tiro ilegal

Apesar de ser ilegal abater qualquer espécie animal protegida (Decreto-Lei nº 316/89 de 22 de Setembro, transposição para a legislação nacional da Convenção de Berna – Anexo II) e de existirem leis reguladoras dos actos de caça que estipulam quais as espécies cinegéticas (“que se podem caçar”) e respectivas épocas e meios de caça, muitas espécies protegidas e ameaçadas são ainda alvejadas de modo intencional.

Consulte a totalidade deste artigo aqui.

Distribuição geográfica (por freguesia) dos ingressos registados no CERVAS por tiro, entre 2006 e 2009.

Captura e Cativeiro ilegal

A captura e posse de aves selvagens autóctones são actos ilegais, e como tal, devem ser denunciadas às autoridades. Em alguns centros de recuperação, esta é uma das principais causas de ingresso de aves selvagens, principalmente devido ao elevado número de Passeriformes apreendidos pelas autoridades, sendo de destacar a importante actuação do SEPNA/GNR e dos Vigilantes da Natureza das áreas protegidas. No entanto, este problema também ameaça diversas espécies de aves de rapina, sendo de destacar negativamente o elevado número de casos de cativeiro ilegal de Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e Milhafre-preto (Milvus migrans) mas também de outras rapinas mais ameaçadas, como o Açor (Accipiter gentilis) ou o Tartaranhão-ruivo-dos-paúis (Circus aeruginosus).



Imagem 1: Tartaranhão-ruivo-dos-pauis (Circus aeruginosus) apreendido pelas autoridades em situação de cativeiro ilegal em casa de um particular.

Foto: Fábia Azevedo


Nos últimos anos tem existido um efectivo empenho das autoridades para recolher animais que estão em posse ilegal por parte de particulares e a tendência é para um aumento progressivo de apreensões nos próximos anos, tendo em consideração que há uma maior sensibilização da população para a denúncia destas situações. Ainda que nalguns casos seja alegado o desconhecimento da legislação, a maioria dos casos de cativeiro é totalmente intencional. Este tipo de situações leva frequentemente a que as aves sejam mantidas sob condições de má higiene, deficiências nutricionais e stress constante, o que leva ao desenvolvimento de patologias e lesões muitas vezes irreversíveis.


Imagem 2: Pintassilgos (Carduelis carduelis) apreendidos pelas autoridades em situação de cativeiro ilegal em casa de um particular. Todos os animais (num total de 22) encontravam-se dentro da gaiola que se encontra no centro da imagem, com uma concentração elevadíssima de indivíduos, apenas com um ponto de acesso a comida e água e sem quaisquer condições de higiene

Foto: CERVAS


Para além dos problemas próprios da situação de cativeiro, em muitos casos verifica-se corte intencional de penas, garras e até de bicos ou membros de aves selvagens capturadas. A recuperação é por vezes impossível devido às lesões físicas, mas o tempo prolongado de contacto com humanos também pode acabar por afectar o estado psicológico normal de cada indivíduo, sobretudo se esse contacto existir desde uma fase muito inicial na vida do animal. Estes animais não podem ser devolvidos à Natureza, pois na grande maioria dos casos não conseguiriam relacionar-se correctamente com outros indivíduos da mesma espécie, e poderiam aproximar-se em demasia de populações humanas.



Imagem 3: Juvenil de Açor (Accipiter gentilis) que estava em cativeiro ilegal numa aldeia de Gouveia e a quem foram cortadas todas as penas das asas.

Foto: Artur Vaz Oliveira


Desde 2006 até ao final de 2009, ingressaram no CERVAS 158 animais devido a captura e cativeiro ilegal, o que representa aproximadamente 16% do total de ingressos. Os dados recolhidos permitem concluir que, no que diz respeito aos animais que ingressam no CERVAS, as principais apreensões de animais em situação de cativeiro ilegal são registadas na zona centro do país, com destaque para os distritos de Coimbra, Viseu e Portalegre.



Imagem 4: Distribuição geográfica (por freguesia e por ano) dos animais ingressos totais no CERVAS (esquerda) e distribuição geográfica dos ingressos no CERVAS devido a captura e cativeiro ilegal.


Estes dados não indicam que a problemática do cativeiro ilegal apenas se verifique nesta zona do país, mas poderão estar também relacionados com um maior número de denúncias e consequentemente um esforço maior ao nível da detecção e resolução destes casos.

No que diz respeito às espécies apreendidas, verifica-se que a pressão da captura e do cativeiro ilegal incidem sobretudo sobre os passeriformes como o Pintassilgo (Carduelis carduelis), o Bico-de-lacre (Estrilda astrid) e a Milheira (Serinus serinus), mas também em aves de rapina como a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e o Milhafre-preto (Milvus migrans). A seguinte lista indica todas as espécies que ingressaram no CERVAS por cativeiro ou captura ilegal, bem como o número de indivíduos por espécie:

Accipiter gentilis - 7

Aquila pennata - 7

Athene noctua - 1

Buteo buteo - 16

Carduelis cannabina - 2

Carduelis carduelis - 66

Carduelis chloris - 5

Circus aeruginosus - 1

Circus pygargus - 1

Corvus corax - 2

Corvus corone - 4

Cyanopica cyanus - 10

Emberiza calandra - 1

Estrilda astrild - 13

Falco tinnunculus - 1

Ficedula hypoleuca - 1

Milvus migrans - 12

Pernis apivorus - 2

Pica pica - 2

Serinus serinus - 13

Streptopelia decaocto - 1

Strix aluco - 5

Sylvia atricapilla - 2

Tyto alba - 2

Vulpes vulpes - 3


Segue-se uma lista com algumas das apreensões mais importantes registadas desde 2006, umas devido ao número de animais apreendidos, outras devido às espécies em questão:

19 de Julho de 2007: 9 Carduelis carduelis (Pintassilgo), 7 Serinus serinus (Milheira) e Pica pica (Pega-rabuda), Muxagata, Vila Nova de Foz Côa;

12 de Setembro de 2007: 13 Carduelis carduelis (Pintassilgo) Galveias, Ponte de Sôr;

21 de Outubro de 2007: Circus aeruginosus (Tartaranhão-ruivo-dos-paúis), Mangualde;

15 de Novembro de 2007: Circus pygargus (Tartaranhão-caçador), São Bartolomeu, Borba;

13 de Março de 2008: 6 Carduelis carduelis (Pintassilgo), 4 Travessos (híbrido de Carduelis carduelis e Serinus canaria), 3 Serinus serinus (Milheira), 2 Carduelis cannabina (Pintarroxo), 2 Sylvia atricapilla (Toutinegra-de-barrete) e Carduelis chloris (Verdilhão), Cantar-Galo, Covilhã;

17 de Junho de 2008: 10 Cyanopica cyanus (Pega-azul) e Pica pica (Pega-rabuda), Pinhel;

03 de Julho de 2009: 4 Accipiter gentilis (Açor), 2 Buteo buteo (Águia-de-asa-redonda) e Milvus migrans (Milhafre-preto), Moita, Anadia.


A resolução deste problema passa por um maior esforço preventivo ao nível informação e sensibilização das populações e por aumento na vigilância, sobretudo nos locais onde existem fortes indícios da ocorrência de captura ilegal de espécies protegidas.