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A mostrar mensagens de janeiro, 2009

Espécie do mês de Janeiro: Milhafre-real

O milhafre-real (Milvus milvus) é uma ave de rapina diurna de comprimento compreendido entre 55 e 64 cm, e com uma envergadura máxima de 180 cm. Esta ave apresenta uma plumagem corporal castanha com pequenas manchas escuras e uma cauda comprida marcadamente bifurcada de cor ruiva. As asas são de cor castanha escura e com pontas de cor negra. Na face superior destas pode-se observar uma linha diagonal descendente mais clara e na parte inferior é possível identificar uma janela translúcida de cor branca. A cabeça é de cor cinza claro com um padrão listrado vertical de cor negra. O milhafre-real juvenil apresenta uma cor mais clara que os adultos, as penas corporais destes têm uma lista preta central e pontas pálidas e a cauda é de cor castanha.

Esta espécie é residente e pode ser encontrada principalmente em planícies e montados, encostas e bosques, podendo também ser observada em áreas de cultivo (principalmente de cereais) e zonas urbanizadas. A alimentação desta ave é constituída por roedores, pequenos pássaros e peixes, contudo esta adopta, sempre que possível, hábitos necrófagos.

O milhafre-real é normalmente solitário mas no Inverno muitos destes agrupam-se em locais de abrigo. Além disso, é uma espécie que acasala para toda a vida (monógama) sendo possível observá-los aos pares na época de acasalamento.
O período de nidificação tem início em Março e a postura decorre ao longo do mês de Abril, com a deposição de 1 a 3 ovos. Após 31 a 32 dias dá-se a eclosão das crias que irão permanecer aos cuidados dos progenitores durante aproximadamente 50 dias.

Em Portugal encontramos uma população bastante fragmentada, principalmente nos meses de Inverno durante a estadia de populações invernantes provenientes do norte e centro da Europa. Da população residente, 70 a 80% destas aves encontram-se nas regiões do Planalto Mirandês, Ribacôa e entre Castelo Branco e Idanha-a-Nova. O restante efectivo encontra-se disperso em vários locais do Alentejo e das bacias do Mondego e Tejo.

Actualmente, em Portugal, a população nidificante (residente), que se distribui pelo nordeste do território, encontra-se “Criticamente em Perigo” e a população invernante, que envolve quase todas as aves que surgem no Alentejo, tem o estatuto de "Vulnerável", estatutos de conservação definidos pelo ICNB em 2005.

As principais ameaças são o abate ilegal e o envenenamento por consumo de carcaças e iscos. Podemos ainda assinalar a electrocussão em linhas eléctricas, a colisão com as pás dos aerogeradores em parques eólicos, o corte de maciços florestais, o abandono da agricultutra tradicional, a redução da disponibilidade alimentar devido ao cumprimento das exigências higieno-sanitárias e ainda a competição com outras aves de rapina florestais.

Libertações: Janeiro de 2009

O CERVAS iniciou o ano de 2009 com duas acções de devolução à Natureza de animais recuperados, entre outras actividades.

22 de Janeiro, 5ª feira
Libertação de um Grifo (Gyps fulvus)
10h00, Vale de Espinho
Esta acção contou com a presença de cerca de 70 crianças do pré-escolar e foi organizada com a colaboração da Câmara Municipal do Sabugal.


Este grifo juvenil ingressou no CERVAS em Novembro de 2008 por se encontrar muito debilitado. Foi encontrado por um particular e recolhido pelo SEPNA da Guarda. O processo de recuperação consistiu em medicação e alimentação, para que recuperasse as forças, e em treinos de voo e musculação.


29 de Janeiro, 5ª Feira
Libertação de uma Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo)
14h30, Anadia


Esta libertação foi organizada com a colaboração da Câmara Municipal e do SEPNA-GNR de Anadia e contou com o apoio da Vinícola Castelar, Lda., que apadrinhou esta ave, e foi antecedida por uma acção de educação ambiental no Colégio de Nossa Sra da Assunção, em Famalicão - Anadia. Estiveram presentes no momento de devolução à natureza desta ave cerca de 100 crianças do Ensino Pré-Primário e Primário, Vanda Póvoa da Vinícola Castelar e representantes da Câmara Municipal de Anadia, entre outros.

Esta ave, também juvenil, foi recolhida por um particular em Paredes de Baixo - Anadia, em Agosto de 2008, e encaminhada para a Reserva Natural do Paúl da Arzila. Foi transportada depois até ao CERVAS onde se verificou que apresentava uma fractura na asa direita, compatível com colisão. O processo de recuperação consistiu na resolução da fractura através da colocação de uma ligadura e posterior fisioterapia, convivio com outras aves da mesma espécie e treinos de voo e musculação.

Mapeamento dos ingressos do CERVAS

No âmbito de um estágio profissionalizante da Licenciatura em Biologia pela Universidade de Aveiro deu-se início a um importante trabalho de mapeamento dos ingressos de animais selvagens no CERVAS, desenvolvido em Sistemas de Informação Geográfica (SIG's). Esta é uma base de trabalho cada vez mais fundamental para a gestão dos centros de recuperação e das suas actividades, permitindo determinar áreas de acção, pontos críticos para a biodiversidade e relações biológicas macrogeográficas dos animais com o meio ambiente.

A) Resultados quantitativos de ingressos no CERVAS durante os anos 2006,2007 e 2008


B) Relação entre os ingressos de atropelamento e a rede de auto estradas nacional e determinação de pontos críticos

Pedro Horta, Biólogo

Enriquecimento Ambiental

No âmbito de um estágio profissionalizante da Licenciatura em Biologia pela Universidade de Aveiro deu-se início a um importante trabalho de enriquecimento ambiental da instalações de recuperação de animais selvagens no CERVAS.
O processo de enriquecimento ambiental consiste no desenvolvimento de três fases: enriquecimento físico, enriquecimento alimentar e enriquecimento sensorial, com o objectivo de tornar o ambiente da jaula o mais próximo possível da vida selvagem.


Helena Raposeira, Bióloga

Treinos de voo em Creance para aves de rapina em recuperação

A recuperação de aves de rapina selvagens é um processo complexo e de elevada exigência. As espécies de aves pertencentes a este grupo são as “atletas de alta competição” da Natureza, sendo necessário que apresentem uma condição física – fitness - óptima de modo a poderem sobreviver no seu habitat natural.

A reabilitação física através de treinos específicos tem então o objectivo de completar os cuidados clínicos proporcionados às aves e é essencial para que o fitness da ave alcance ou retorne aos níveis necessários à sua sobrevivência (Arent, 2001). É condição essencial à libertação de uma ave de rapina sujeita a um processo de recuperação que esta apresente a melhor condição física possível, que lhe permita capturar as suas presas (Arent, 2001). Se tal não acontecer, esta ave nunca sobreviverá na natureza, tornando todo o processo de recuperação inútil para a reabilitação da ave em si e para a conservação da espécie e ecossistemas a ela associados no geral.

Os movimentos diários e constantes realizados pelas aves numa câmara de muda ou túnel de voo permitem-lhes manter um estado saudável mas são insuficientes para que esta alcance um nível de condição física ideal, o chamado fitness de performance (Clayton, 1950, in: Arent, 2001), que lhes possibilite comportar-se normalmente e sobreviver na natureza. Esta condição implica o desenvolvimento dos sistemas muscular e cardiovascular e uma amplificação da capacidade aeróbia. Assim sendo, esta condição apenas é alcançável através de um plano de treinos muito bem definido, complementando o treino que as aves fazem só por si dentro das estruturas já referidas. Os treinos de voo permitem assim colmatar as limitações destes espaços, que dificilmente apresentam dimensões suficientes para um auto-treino completo ou podem mesmo não existir em alguns centros de recuperação.


Estimulando o voo num túnel de voo ou realizando treinos mediante a técnica do Creance é possível proporcionar às aves de rapina exercícios mais completos e diversificados (Redig et al., 2007), apropriados às exigências naturais a que se encontrarão sujeitas quando regressarem à natureza.

As técnicas de treino de voo podem dividir-se em dois grupos gerais, sendo possível exercitar aves de um modo livre (sem qualquer equipamento acoplado a si) ou usando um equipamento apropriado.

Nos treinos livres, a ave é colocada num corredor fechado, com comprimento definido, sem ter qualquer equipamento adicionado e é estimulada a voar o número de voos necessários para completar a distância adequada.

O Creance é uma técnica adaptada da falcoaria que envolve a ligação de tiras de couro, as piós ou braceletes e correias, aos tarsos da ave e a adição de um cordel, o fiador (ou, em inglês, Creance) a essas mesmas tiras. A ave é então treinada com este equipamento, de peso irrelevante para o tamanho da ave, num espaço aberto, livre de obstáculos e num terreno que permita aterragens seguras. A quantidade de fiador disponível determinará a distância permitida para cada voo e o número de voos deverá perfazer a distância total prevista para cada espécie (Arent, 2001).

Esta técnica permite melhorar e acompanhar a fase final da preparação dos animais a libertar mediante a aplicação de planos de treino de voo em Creance e a avaliação de parâmetros físicos e fisiológicos (peso corporal, frequência respiratória, frequência cardíaca, temperatura corporal, concentração de lactato, glicose, proteínas totais e hematócrito), estilos de voo e comportamentos específicos.

Analisando e comparando os dados obtidos durante todo o programa de treino, é possível estudar o progresso das várias aves durante a implementação de um plano de treino de voo específico, procurando determinar o momento em que estas alcançaram a fitness de performance, condição essencial para que a devolução da ave à natureza seja bem sucedida, resultando numa maior probabilidade de sobrevivência e reprodução no habitat ao qual será devolvida.

Este estudo foi desenvolvido no âmbito da tese de Mestrado em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas, da Universidade de Aveiro.

Liliana Barosa, Bióloga

Percepções sociais da população do concelho de Gouveia em relação à fauna silvestre local e aos centros de recuperação de animais selvagens

A análise das percepções sociais tem-se revelado um alicerce extremamente importante no campo da conservação e da gestão faunística, determinando muitas das vezes o sucesso ou fracasso das medidas a aplicar. Tal é o caso das campanhas de educação e sensibilização ambiental, cuja promoção é uma das várias linhas de actuação do CERVAS.
Com esta consideração como pano de fundo, a investigação antropológica desenvolvida girou em torno de dois objectivos. Em primeiro lugar, pretendeu-se apreender as percepções sociais da população residente no concelho de Gouveia acerca da fauna silvestre local, bem como as (possíveis) variáveis que lhes subjazem. Para tal, foram seleccionadas cinco espécies: o Pintassilgo (Carduelis carduelis), a Coruja-das-torres (Tyto alba), a Fuinha (Martes foina), o Grifo (Gyps fulvus) e o Milhafre-preto (Milvus migrans). Por outro lado, pretendeu-se aceder ao grau de conhecimento e aceitação da população em causa, bem como às respectivas opiniões, em relação ao trabalho e actuação dos Centros de Recuperação de Animais Selvagens em Portugal, no geral, e do CERVAS, em particular. Foi, então, conduzido um inquérito por questionário entre inícios de Junho e finais de Agosto de 2008 nas ruas de seis freguesias do concelho de Gouveia: Aldeias, Nespereira, S. Paio, S. Pedro, Ribamondego e Vinhó. Da amostra fizeram parte 109 casos (50 do sexo masculino, 59 do feminino), representando cerca de 2% dos casos do Universo.

Os resultados sugerem que a maioria das percepções demonstradas pelos inquiridos em relação às espécies consideradas são eminentemente positivas, embora nalguns casos a positividade das respostas tenha sido muito superior à de outras, como se verificou no caso do Pintassilgo e do Milhafre-preto. Por outro lado, as percepções sociais parecem estar de certa forma relacionadas com o conhecimento empírico das espécies, tendendo ainda a ser influenciadas por algumas das variáveis sócio-demográficas tidas em conta (como é o caso da idade, residência e habilitações literárias). Quanto aos Centros de Recuperação, os dados revelam que as opiniões são positivas, apesar de a maioria dos inquiridos não conhecer o CERVAS (58%). Para além disso, a população demonstrou interesse em assistir a futuras libertações e na recepção de informações sobre as actividades dos Centros, apesar de um número igualmente significativo não demonstrar qualquer interesse.
Este estudo pioneiro permitiu, entre outros aspectos, demonstar a importância de ter em conta as percepções locais para o próprio trabalho dos Centros de Recuperação de Animais Selvagens, podendo ser interessante desenvolver estudos mais alargados nesta área, em termos quantitativos e geográficos, num futuro próximo.
Filipa Soares, Antropóloga

Libertações 2008



ACÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL / LIBERTAÇÃO DE ANIMAIS (2008):
Nº de acções: 70
Nº de participantes: 2796