Espécie do mês de Julho: Cágado-de-carapaça-estriada


O cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) é um dos dois cágados autóctones que ocorrem nos rios portugueses.

O corpo e a carapaça deste cágado possuem uma coloração onde predomina o preto, cinzento ou castanho e com riscas e manchas amarelas que compõe o padrão característico desta espécie. A carapaça não possui uma quilha muito evidente nos animais adultos e a região dorsal é abaulada e rígida. Os tamanhos máximos de carapaça, medidos em Portugal, para machos foram de 157mm e para as fêmeas foi de 160 mm. O espaldar normalmente é escuro com pequenas manchas amarelas que podem fundir-se dando lugar a um desenho radial em cada placa dorsal, e a face ventral, ou plastrão, é plana com coloração cinzenta ou amarela possuindo manchas escuras dispostas irregularmente. As placas inguinais e axilares são vestigiais ou inexistentes e as placas anais são arredondadas. As extremidades do cágado-de-carapaça-estriada são robustas com escamas visíveis e unhas compridas e fortes, e membranas interdigitais.
Nesta espécie a distinção entre macho e fêmea não é muito evidente, no entanto a face ventral nos machos é ligeiramente côncava, enquanto que a das fêmeas é plana e convexa. O macho também apresenta a cauda mais comprida e grossa. Os recém-nascidos têm uma carapaça quase circular, que mede cerca de 30 mm de comprimento e possuem um padrão semelhante ao dos adultos mas com tonalidades mais escuras e com pequenas manchas amarelas somente nos bordos do espaldar, para além disso possuem uma quilha vertebral que vai atenuando com a idade.

O cágado-de-carapaça-estriada é uma espécie de hábitos diurnos e que se encontra activa praticamente ao longo de todo o ano, embora nas zonas mais quentes possa apresentar um período de estivação e nas zonas mais frias pode mesmo hibernar.
Em Portugal o cágado-de-carapaça-estriada, ocorre em habitats de água doce (dulciaquícolas) ou de água salobra, permanentes ou temporários, tais como charcos, albufeiras, represas, rios e ribeiros.É comum a partilha das mesmas zonas húmidas com o cágado-mediterrânico quando ambas as espécies estão presentes no mesmo local. Em zona de montanha é uma espécie rara, não se encontrando indivíduos acima dos 1000 m de altitude. A sua presença a norte do rio Tejo é descontínua, sendo conhecidas apenas algumas populações isoladas. A bacia hidrográfica mais importante para esta espécie de cágado é a do rio Guadiana. O cágado-de-carapaça-estriada distribui-se na maior parte da Europa, com excepção das ilhas Britânicas e Escandinávia, onde a Península Ibérica é a única região da Europa onde as duas espécies são simpátricas.

A época de reprodução do cágado-de-carapaça-estriada inicia-se após o Inverno, podendo ocorrer um segundo período de reprodução outonal nas zonas onde há um período de estivação. A cópula ocorre geralmente em meio aquático e as posturas realizam-se entre Maio e Julho, em que a fêmea escava um buraco onde enterra cerca de 3 a 18 ovos. Os machos só alcançam a maturidade sexual aos 6-8 anos de idade (120 mm de comprimento de carapaça), enquanto que as fêmeas não se reproduzem antes dos 10-12 anos (130 mm de comprimento de carapaça). A disponibilidade de recursos alimentares é um dos factores mais importantes para a maturação sexual desta espécie de cágado. O cágado-de-carapaça-estriada apresenta uma longevidade, em estado selvagem, de cerca de 30 a 40 anos.

O cágado-de-carapaça-estriada alimenta-se essencialmente de invertebrados aquáticos, larvas e adultos de anfíbios, pequenos peixes, insectos, caracóis e matéria vegetal que procura à superfície ou de baixo de água, podendo ainda capturar, ocasionalmente, crias de aves. Os juvenis desta espécie são mais carnívoros do que os adultos. Entre os predadores desta espécie, destacam-se os javalis, o saca-rabos, a ratazana, diversas aves de rapina diurnas, corvídeos e garças, e está também comprovada a predação de juvenis pelo peixe vulgarmente conhecido como lúcio.

Um dos problemas de conservação que o cágado-de-carapaça-estriada e o cágado-mediterrânico enfrentam é a captura e o cativeiro ilegal, assim como a introdução de espécies de cágados exóticos nos seus habitats naturais, nomeadamente da tartaruga-verde (Trachemys scripta) e tartaruga-da-Flórida (Trachemys scripta elegans) que têm maior crescimento e são mais agressivas e oportunistas, competindo negativamente com os cágados autóctones.
Para reduzir este impacto pôs-se em marcha o projecto LIFE+ Trachemys, co-financiado pela Comissão Europeia, para o seu desenvolvimento em 17 zonas húmidas da Generalidade Valenciana e Portugal.

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