Espécie do mês de Setembro: Cobra-de-água-de-colar

A cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix) é um ofídio de dimensões médias que pode atingir os 2 m de comprimento não ultrapassando geralmente os 1,20 m. Apresenta escamas dorsais carenadas e geralmente 3 escamas pós-oculares (1).


Os adultos desta espécie apresentam uma cor uniforme verde-acinzentada com pequenas manchas escuras dispersas ao longo do corpo e ventre esbranquiçado ou esverdeado com manchas pretas (1;3). Os juvenis possuem um notável colar branco, ou amarelado, orlado de negro na parte posterior da cabeça, resultando daí o nome que lhe é atribuído (1).



Esta espécie possui uma ampla distribuição Paleártica, da Europa e Magreb até à Mongolia (1), encontrando-se bem distribuída na Península Ibérica embora de forma descontinua, (no sul a aridez ambiental restringe a espécie aos meios mais favoráveis com presença de massas de água estáveis e limpas) (2). Em Portugal a cobra-de-água-de-colar distribui-se por todo o território continental embora se considere que a espécie seja mais frequente em áreas de altitude média a elevada (acima dos 400m) do que baixa, no entanto distribui-se desde o nível do mar até aos 1875 m, na Serra da Estrela (2).


A cobra-de-água-de-colar tem hábitos aquáticos ocorrendo tanto em locais húmidos, prados e ribeiras, como em locais mais afastados de água, como matagais e bosques. Alimenta-se essencialmente de sapos e rãs e ocasionalmente de tritões, peixes e salamandras (1;3) caçando muitas vezes junto da água e fazendo-o sempre à superfície (ao contrário da sua congénere cobra-de-água-viperina) (3).



Na época de reprodução que ocorre entre Abril a Maio é possível ver vários machos tentarem acasalar com uma única fêmea formando curiosas “bolas” de serpentes. As fêmeas são ovíparas fazendo posturas de 5 a 50 ovos, demonstrando tendências para a ovoviparidade onde aquando da postura muitos dos ovos apresentam embriões em estado de desenvolvimento mais ou menos avançados (1).


Esta espécie desenvolveu comportamentos de defesa singulares onde quando surpreendida tem tendência a fugir mas quando encurralada sopra ruidosamente podendo bater com o focinho sem abrir a boca, e quando agarrada pode libertar um odor nauseabundo através das glândulas cloacais e fingir-se morta apresentando o corpo flácido e a boca aberta com a língua pendente, este comportamento permite enganar os predadores que acabam por se afastar desinteressados (1;3).


A cobra-de-água-de-colar por ser uma espécie dependente da água é vulnerável à contaminação e desaparecimento dos meios aquáticos, tanto naturais como artificiais, grande parte devido às alterações dos usos agrícolas e pecuários tradicionais que favorecem a fragmentação e o isolamento das suas populações (2;3). Verifica-se que no Norte de Portugal a cobra-de-água-de-colar é uma espécie muito ubíqua sendo vítima de atropelamento e do uso de pesticidas e no Centro e Sul a baixa densidade e isolamento das populações aumentam a sua vulnerabilidade (2). Segundo o Livro vermelho dos vertebrados de Portugal esta espécie encontra-se classificada como Pouco Preocupante-LC.

Bibliografia:

(1) Lesparre, D.; Crespo, E.. A Herpetofauna do Parque Natural da Serra da Estrela. CISE - Munícipio de Seia

(2) Loureiro, A.; Almeida, N. F.; Carretero, M. A.; Paulo, O. S., 2008. Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, I.P. - Lisboa

(3) http://anfibioserepteis.blogspot.com/

Comentários

Cristina disse…
È de louvar todo o vosso trabalho, empenho e dedicação, em socorrer, ou preservar as espécies animais.
Tem um trabalho muito bonito, quem na vossa organização trabalha.
Em Salvaterra do Extremo, diz-se que de vez em quando, vão lá libertar algumas cobras, para alimentação das aves de rapina. Este Verão, nunca tinha visto tanta cobra junta, no rio Erges. E no quintal de nossa casa apanhámos 2.
Coloquei um pequeno video no Youtube, neste endereço: http://www.youtube.com/watch?v=J9EzyQBYkkw
Sei que se trata de cobras de água, mas se me pudessem dizer o nome agradecia, pois assim iria pesquisar, para saber mais sobre elas...
Sei que de nós fogem com medo, mas assusta-me um pouco a ideia do sucesso na sua reprodução.
Obrigada!
Continuação de bom trabalho...

Mensagens populares deste blogue

Espécie do mês de Maio: Cobra-rateira

Espécie do mês de Abril: Tentilhão-comum

Espécie do mês de Junho: Ouriço-cacheiro

Espécie do mês de Junho: Víbora-cornuda

Espécie do mês de Março: Morcego-anão

Espécie do mês de Março: Corvo

Espécie do mês de Setembro: Cágado-mediterrânico

Devolução à Natureza de 1 morcego-negro em Gouveia

Espécie do mês de Dezembro: Fuinha