Espécie do mês de Outubro: Noitibó-cinzento


O noitibó-cinzento (Caprimulgus europaeus) é uma ave de hábitos crepusculares e nocturnos, cujo tamanho varia entre 26-28 cm (75-100g), possuindo umas asas relativamente compridas (57-64 cm). A plumagem padrão castanho e cinzenta, permite que esta ave se torne imperceptível quando repousa sobre um ramo ou no meio da folhagem no chão durante o dia. Os machos distinguem-se por possuírem umas manchas brancas nas três primárias mais externas das asas e nos dois pares de rectrizes mais externas. Estas manchas só são visíveis em voo e a fêmea não as possui. Em voo pode ser confundido com o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficolis), apesar deste ser nitidamente maior (30-32 cm), e também com um cuco ou mesmo com um pequeno falcão.

Encontra-se distribuído e nidifica por todo o continente europeu, Noroeste de África e pela Ásia Central até à China, sendo que se encontra em elevado decréscimo no noroeste da Europa, tendo entrado praticamente em extinção em alguns países. É uma ave migradora, invernando principalmente na África subsariana. Nidifica em Portugal Continental, encontrando-se no nosso país, sensivelmente, desde Abril até Outubro, distribuindo-se por todo território, sendo mais escasso no Sul.


Habita desde zonas oceânicas até zonas continentais, preferindo zonas secas, abertas, bem drenadas, tais como bosques de coníferas e de folhosas não muito densos, clareiras de coníferas ou mistas, charnecas e zonas de cultivo intercaladas. A sua presença também é frequentemente detectada em terrenos ardidos em anos anteriores. Isto poderá acontecer devido à grande disponibilidade de alimento, sendo que a dieta do noitibó-cinzento é constituída essencialmente por insectos, como borboletas nocturnas (Lepidoptera), escaravelhos (Coleoptera) e moscas (Diptera). A captura dos insectos pode ser feita através de voos rasantes ao chão mantendo as asas em “V” aberto, conseguindo mudar de direcção rapidamente. Aproxima-se das suas presas por baixo ou pelo lado, abrindo a boca imediatamente antes de as capturar. Também pode caçar a partir de pousos, capturando 2-3 presas, regressando ao pouso onde as presas são engolidas vivas e inteiras. Caçando a partir de um pouso, o noitibó-cinzento pode capturar cerca de 15 insectos em 15 minutos. Já em voo pode capturar cerca de 12 insectos em cerca de 1 minuto.


A época reprodutora do noitibó-cinzento situa-se entre Maio e Agosto, nidificando em clareiras ou zonas abertas e secas. A postura de 1-2 ovos, raramente 3, é feita directamente no chão ou sobre vegetação rasteira, começando a incubação logo a partir do primeiro ovo, durante 17-18 dias, podendo chegar a 21 dias se o ninho for perturbado. A incubação é feita maioritariamente pela fêmea, sendo substituída pelo macho durante o amanhecer e o crepúsculo. As crias podem abandonar o ninho 16-17 dias depois de nascerem, continuando a ser alimentadas pelos progenitores, sendo capazes de voar com cerca de 32 dias de idade, tornando-se assim independentes.


Na Europa esta espécie apresenta um estatuto de conservação Desfavorável (SPEC 2) e em Portugal o noitibó-cinzento está classificado, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados, como Vulnerável, devendo-se à reduzida densidade e declínio continuado da população. Os poucos estudos que existem com esta espécie, apontam como principais causas a perda de habitat, abandono de práticas agrícolas tradicionais, uso de pesticidas e as mudanças climáticas. Outras causas como o atropelamento e a predação por animais domésticos também têm sido apontadas como grandes factores para a continuada diminuição desta espécie. E são estas também algumas das principais causas de entrada desta espécie no CERVAS, sendo que em alguns casos não é possível a sua recuperação devido à gravidade das lesões. Quando as lesões são menos graves e a recuperação possível, o que torna este processo mais complicado é a necessidade de manusear a ave para alimentar, levando à perda de penas devido ao stress. Para que isso não aconteça, toda manipulação da ave deve ser realizada de uma forma muito cuidadosa, aumentando assim a possibilidade de se conseguir devolver a ave à natureza, com a plumagem em excelentes condições. Em 2010 conseguimos recuperar com sucesso e devolver à natureza 2 noitibós-cinzentos, algo que ainda não tinha sido possível em anos anteriores. Isto deveu-se ao facto de se reduzir ao mínimo indispensável as vezes que as aves eram manuseadas, sendo que quando necessário era realizado com extremo cuidado.

Comentários

João Fernandes disse…
Como se pode tratar um noitibó
CERVAS disse…
Boa tarde João,

recomendamos que o noitibó seja entregue num centro de recuperação, directamente ou através do SEPNA-GNR (217503080/808200520), porque será necessário fazer uma avaliação das lesões, condição física, etc e proceder aos tratamentos necessários. Em relação ao maneio, trata-se de uma espécie bastante complicada, com uma plumagem muito frágil, e que requer alimentação regular.

Ricardo Brandão
Coordenador / Médico Veterinário do CERVAS

Mensagens populares deste blogue

Espécie do mês de Maio: Cobra-rateira

Espécie do mês de Setembro: Cágado-mediterrânico

Espécie do mês de Junho: Melro-preto

Espécie do mês de Março: Corvo

Espécie do mês de Junho: Ouriço-cacheiro

Espécie do mês de Junho: Víbora-cornuda

Espécie do mês de Abril: Coelho-bravo

Espécie do mês de Março: Morcego-anão

Espécie do mês de Setembro: Cobra-de-água-de-colar

Espécie do mês de Fevereiro: Gavião