Espécie do mês de Junho: Abutre-preto

O abutre-preto (Aegypius monachus) é uma ave de rapina muito grande que pode atingir os 2,85m de envergadura, sendo a 2ª maior ave de rapina do Mundo. O indivíduo adulto apresenta coberturas da face inferior das asas não uniformemente escuras e a pelagem da cabeça e da gola é acastanhada enquanto que o juvenil possui coberturas da face inferior das asas homogeneamente pretas, mais escuras que as penas de voo, e a pelagem da cabeça e da gola também de cor preta (adquire a coloração de adulto ao fim de cerca de 6 anos). Possui asas largas com “dedos” muito compridos, cauda curta, redonda ou ligeiramente cuneiforme e patas com uma coloração que varia entre o branco azulado, rosado ou amarelado.


É uma espécie que se reproduz tanto em regiões montanhosas como em grandes florestas de terras baixas com colinas e afloramentos rochosos, nidificando quase sempre em árvores, em grandes ninhos feitos de ramos e pequenos galhos, de forma isolada ou em pequenas colónias, com ninhos dispersos de forma desorganizada. A postura é de apenas um ovo e ocorre entre Fevereiro e Março. É uma espécie monogâmica e ambos os progenitores cuidam e alimentam a cria.

Esta ave apresenta hábitos necrófagos, alimentando-se de carcaças de grande e médio porte, rasgando a pele e músculos com o seu poderoso bico. Alimenta-se em zonas vastas de cerealicultura e pastoreio extensivo e também em zonas de mato não muito denso, sozinho ou em pequenos grupos, podendo regressar à mesma carcaça durante vários dias, e só muito raramente captura presas vivas.



Na Europa, existem apenas 1000 casais, a maior parte destes em Espanha. A sua área de ocorrência regular no nosso país restringe-se a uma faixa muito estreita na zona fronteiriça do Alentejo e Beira Baixa (Tejo Internacional). Esta espécie foi classificada pelo ICNB em 2005 como “Criticamente em perigo” pois apresenta uma população extremamente reduzida em Portugal. Após um longo período sem nidificar em território nacional, durante este ano foram registados os 2 primeiros casos de reprodução da espécie, algo que não acontecia desde a década de 70. Poderá ver 2 reportagens sobre a nidificação do abutre-preto em Portugal, emitidas pela SIC, aqui e aqui.

As principais ameaças a esta espécie são: uso de iscos envenenados para controlo de predadores de espécies pecuárias e cinegéticas, redução da disponibilidade trófica devido ao cumprimento das exigências higieno-sanitárias, diminuição do aproveitamento pecuário extensivo, dificuldades de funcionamento dos “alimentadores artificiais de necrófagos”, a perturbação humana, a colisão e electrocussão, o abate ilegal, a degradação de habitats de alimentação e a instalação de parques eólicos e infra-estruturas hidráulicas.


Uma nota final: o abutre-preto que se encontra em recuperação no CERVAS desde o final de 2007, irá finalmente deixar este centro. Este animal sofreu uma electrocussão grave, que levou a queimaduras muito extensas na zona da asa e que desde então impediram o correcto crescimento das penas secundárias, tornando-o assim num animal irrecuperável. O "Aloe", nome que carinhosamente lhe foi dado pelos colaboradores do CERVAS, irá ser transferido para o CERAS - Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens, em Castelo Branco, onde irá apoiar a recuperação de um animal da mesma espécie que esteve em cativeiro ilegal e onde irá aguardar pela transferência para Espanha para integrar um programa de reprodução em cativeiro desta espécie.



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